*Por Denise Guerra*
César Griot em pé, o último à direita, eu de blusa vermelha
e a profª Drª Conceição Evaristo à esquerda do meu lado,
com o GTO - Bissau no final da peça que foi muito Show!!!*
O grupo GTO – Bissau iniciou sua participação fiel às propostas do Teatro do Oprimido fundada pelo brasileiro Augusto Boal no Brasil e na Guiné Bissau. No Teatro do Oprimido a dinâmica usual é sempre partir de um problema, o qual depende da intervenção da platéia para sua resolução do ponto de vista do oprimido.
Um dos atores veio cumprimentar o público e explicar suas propostas; em seguida os demais atores entraram cantando e dançando duas músicas ao som de um tambor, sendo a primeira com o tema sobre a “Liberdade” e a segunda com o tema do “Amor”. A história da Guiné Bissau foi muito marcada pela opressão colonial, e constantes guerras pela liberdade; ainda hoje o país vive momentos delicados e uma instabilidade política muito séria, haja vista os episódios da morte do último presidente Nino Vieira, em março deste ano, assim como a posterior morte do candidato à presidência Baciro Dabó. As músicas sobre a Liberdade e o Amor soam como Odes a estes bens tão preciosos e pouco disponíveis na vida daquele povo.
A cena deflagradora das questões a serem solucionadas pela intervenção do fórum público mostrou uma cerimônia onde o mais velho, personagem avô, reuniu seus herdeiros para participarem de um ritual de união da família e preservação das tradições. Como é o costume, o mais velho pede para que a família, ali representada por duas filhas e dois netos, cante e dance para avisar aos deuses que eles estão reunidos, para pedir que abençoem a cerimônia e a união da família. Observa-se que o canto e a dança são as vias mais importantes de contato com os deuses africanos, e no caso da Guiné Bissau, há uma forte herança cultural sendo a dança acompanhada da música característica, a maior expressão artística desta cultura.
As danças da peça foram acompanhadas por um tambor e canto nativo em língua crioula ou mandé(?) idioma comum entre os guineenses. Após a louvação, iniciou-se o ritual no qual, seguindo-se a tradição, a irmã mais velha deveria lavar suas mãos na água sagrada preparada para a cerimônia. Vê-se então a quebra dos costumes pela irmã mais nova, que passou a frente da irmã mais velha e mergulhou primeiro sua mão na água sagrada. Assim, criou-se um mal estar entre as famílias, e o problema estava colocado para possíveis resoluções com a intervenção do público.
A platéia compareceu participativa e solidária ao oprimido da história, no entanto, percebeu-se nítida dificuldade dos brasileiros quanto ao entendimento sobre a visão de mundo dos africanos. Ainda assim, a interatividade foi muito produtiva, e certamente, ambos os países aprenderam um pouco mais sobre a cultura do outro.
A produção da peça “Nó Mama Frutos da Mesma Árvore” contou com um cenário simples do ponto de vista material, porém, riquíssimo em criatividade, simbologia e energia: o Embondeiro (árvore mística), a União da Família (através dos tecidos), a Água sagrada (que tudo lava), a Dança (a arte do movimento corporal rítmico), o Tambor (meio de comunicação com os deuses).
A sonorização baseada nos cânticos originais deste povo ficou marcado pela voz estridente de uma personagem, bem como, pela polifonia do coro que cantou com afinação não temperada, com ritmos marcados e sincopados. O nome das duas famílias envolvidas na trama “Prela” e “Silá” coincidem com os nomes das notas musicais Ré, Lá (notas separadas por um intervalo grande de tons, no caso uma 5ª justa) e Si, Lá (notas próximas na sequência da escala tonal ou uma 2ª M); será que estes nomes e intervalos de notas foi pensado para expressar a possibilidade de afastamento e união das famílias por causa do problema a ser resolvido?
A sonorização baseada nos cânticos originais deste povo ficou marcado pela voz estridente de uma personagem, bem como, pela polifonia do coro que cantou com afinação não temperada, com ritmos marcados e sincopados. O nome das duas famílias envolvidas na trama “Prela” e “Silá” coincidem com os nomes das notas musicais Ré, Lá (notas separadas por um intervalo grande de tons, no caso uma 5ª justa) e Si, Lá (notas próximas na sequência da escala tonal ou uma 2ª M); será que estes nomes e intervalos de notas foi pensado para expressar a possibilidade de afastamento e união das famílias por causa do problema a ser resolvido?
Manter a Tradição em um mundo globalizado e repleto de guerras que extingui pessoas e culturas talvez só seja possível com a perseverança da União. Estes dois temas abordados na peça, Tradição e União, expressam o desejo de manutenção da circularidade africana. Que nossos visitantes levem a paz, o amor, a esperança, a união, a música e a dança do bem no regresso aos seus países. Que continuem contando histórias ao pé do Baobá e à volta da fogueira, mantendo e preservando a essência do povo e de sua cultura.
“Quem conhece o ontem e o hoje Conhecerá o amanhã, porque
O fio do tecelão é o futuro, O pano tecido é o presente,
O pano tecido e dobrado é o passado”.
O fio do tecelão é o futuro, O pano tecido é o presente,
O pano tecido e dobrado é o passado”.
(Provérbio fulani)
Ficha técnica
Criação/Concepção coletiva: Grupo de Teatro do Oprimido – GTO / Guiné Bissau – BissauDireção Artística: Barbara Santos Elenco: Claudina Joaquim da Silva Gomes, Edilta da Silva, Elsa Maria Ramos Gomes, José Carlos Lopes Correia, Silvano Bernardo Antônio dos Santos; Suleimane GadjicóDuração: 60 min. Concepção Plástica: Cachalote Mattos
Referências:
Lopes, Nei. Bantos, Malês e Identidade Negra. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
http://historiadaguine.blogspot.com/ (acesso em 13/07/09)
Criação/Concepção coletiva: Grupo de Teatro do Oprimido – GTO / Guiné Bissau – BissauDireção Artística: Barbara Santos Elenco: Claudina Joaquim da Silva Gomes, Edilta da Silva, Elsa Maria Ramos Gomes, José Carlos Lopes Correia, Silvano Bernardo Antônio dos Santos; Suleimane GadjicóDuração: 60 min. Concepção Plástica: Cachalote Mattos
Referências:
Lopes, Nei. Bantos, Malês e Identidade Negra. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
http://historiadaguine.blogspot.com/ (acesso em 13/07/09)
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