O Workshop de Timbila (instrumento criado pelo povo Chope de Moçambique, considerado pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade) aconteceu entre os dias 09 e 12/07/2009 no espaço do Maracatu Brasil, no Rio de Janeiro, com diversos instrumentos ao nosso dispor além das três Timbilas de tamanhos pequeno, médio e grande.
O músico e professor de percussão do TEAR, André Sampaio, foi o mediador do curso inclusive porque ele teve contatos anteriores com o músico Matchume Zango em Moçambique, e consequentemente já estava familiarizado com o instrumento Timbila.
Matchume Zango, músico e professor de Timbila, nos recebeu com simpatia e dedicou-se a transpor as barreiras dos costumes e concepções musicais que são diferentes em nossos países. Desta forma, começou o Workshop nos contando sobre a história da Timbila que se confunde com a história do seu povo, os Chopes. Segundo o moçambicano eles não sabem ao certo quando a Timbila foi criada, mas, sabem de sua importância social, política, educativa e cultural.
O visitante disse-nos que este instrumento é tocado no dia-a-dia das famílias e que desde pequeno as crianças têm contato com a Timbila. A Timbila serviu de alento ao povo Chope para aplacar os horrores das guerras sofridas; amenizou o pânico vivido por seus conterrâneos nas perigosas minas de extração de pedras preciosas na África do Sul; harmonizou os diversos eventos sociais das famílias Chopes, como as confraternizações entre eles e com outros povos vizinhos. Arrisco-me a afirmar que este instrumento teve e continua tendo um valor musicoterápico e místico para o povo Chope.
As diversas famílias produzem artesanalmente a Timbila, e o mais incrível é que a afinação desta é feita através das vozes dos artesãos construtores; por isso, cada família tem Timbilas com afinações próprias e no caso de se formar uma banda ou orquestra de Timbilas é importante que venham da mesma família produtora para que a afinação fique mais adequada.
A Timbila é composta em sua parte superior por teclas de madeira de uma árvore especial chamada Moendi; estas teclas são afinadas na escala tonal, mas, com diferenças de comas (subdivisões de uma nota musical) formando um instrumento não temperado (sem afinação fixa); as teclas são percutidas com duas baquetas lembrando o dinâmica do xilofone. Na parte inferior a Timbila é composta por Massalas (um tipo de cabaças que dá em árvores como o nosso coité) e tem tantas Massalas quanto seja o número de teclas do instrumento; os tamanhos das Massalas variam de acordo com o tamanho das teclas; elas fazem então a função de caixa de ressonância, com vibração das membranas que possuem nos orifícios de saída do som.
O som das Timbilas é forte e comporta o acompanhamento de vários outros instrumentos de percussão ao mesmo tempo, sendo ela em geral um instrumento de solo sonoro-ritmico. O workshop seguiu-se com o mestre passando algumas concepções rítmicas para que nós acompanhássemos as Timbilas. Nossos ouvidos acostumados aos sambas, maracatus, forrós etc, se confundiram um pouco com as constantes fusas e semifusas (células rítmicas que expressam andamento rápido) ditadas pelo músico Matchume; No entanto, nos encontrávamos sempre ao final de cada percurso musical.
O nosso workshop foi prestigiado com as presenças de músicos experientes e grandiosos como é o caso do srº Humberto do Jongo da Serrinha. Entre os demais alunos estavam outros músicos, professores e alunos de percussão, além de duas musicoterapeutas (eu e a colega Sinai).
Matchume Zango nos contou que cresceu ouvindo Jazz, Hip-Hop, Semba (fazendo uma ponte com o nosso samba), mas, a influência jazzística foi mais forte. No seu trabalho comumente ele une as concepções contemporânea à música tradicional do seu povo mediada pelo Jazz. Dito isso, passamos no último dia do curso à prática mais elementar preconizada pelo Jazz: o Improviso. O Timbileiro nos deu um tema e a cada volta deste tema um de nós improvisava junto com a Timbila que fazia a base. Além desta prática rítmico sonora ter sido muito prazerosa nos inovou musicalmente, pois, a maioria de nós não tinha se quer conhecimento da existência do instrumento Timbila.
Agradecemos ao músico André Sampaio e ao Maracatu Brasil por terem tornado possível este workshop. Ficamos infinitamente gratos ao músico moçambicano Matchume Zango por sua disponibilidade, cumplicidade musical e por seu carisma!
Quero finalizar ressaltando a energia do povo Chope e seu instrumento Timbila através de uma colocação feita pelo ilustre filho da terra que Moçambique nos enviou: “Antes de falar e andar o povo Chope canta, dança e toca Timbila” (Matchume Zango). Muito obrigada Matchume, Warethwa! (Vá em frente).
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