♫AMIGOS DO AFRO CORPOREIDADE♫

sábado, 20 de fevereiro de 2010

♫JONGO PARA CRIANÇAS: A RODA e a HISTÓRIA NO LIVRO JONGO DA ESCRITORA SÔNIA ROSA♫

*Por Denise Guerra*


O Jongo é uma manifestação cultural afro-brasileira. É uma forma de expressão que integra percussão de tambores, palmas, canto responsorial, dança coletiva em roda com solo de pares ao meio dando umbigadas e elementos mágico-poéticos com enigmas a serem desvendados. O Jongo foi proclamado patrimônio cultural afro-brasileiro em novembro de 2005 pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

Suas raízes vem das tradições dos povos africanos em especial os da etnia bantu (negros chamados Angolas, Congos, Cabindas, Benguelas e Moçambiques), muito presente no sudeste brasileiro. Ao longo dos tempos o Jongo se afirmou como manifestação de uma identidade cultural, como espaço de resistência para várias comunidades afro-descendentes e como louvação aos ancestrais.

As crianças antigamente eram proibidas de frequêntar as rodas de jongo que eram dançadas só pelos adultos, no entanto, em torno da década de 60, os antigos jongueiros da Serrinha estimulados pelas ideias do Mestre Darcy do Jongo começaram a incentivar as crianças da comunidade a aprenderem o canto e a dança dos seus ancestrais jongueiros. Mestre Darcy do Jongo dizia que se as crianças não perpetuassem esta raiz cultural o jongo morreria com os mais velhos e nós perderíamos este tesouro da cultura afro-brasileira. Assim nasceu o Grupo Cultural Jongo da Serrinha.

A expressão vocal do jongo chama-se “ponto”, são as letras enigmáticas que deverão ser desamarradas como num desafio na hora das rodas de jongo e cada classe de ponto tem seus objetivos. Os pontos podem ser de Abertura ou Licença(para iniciar as rodas), de Louvação (saudando os ancestrais), de Visaria (para alegrar e divertir a comunidade), de Demanda (é como um desafio a outro participante da roda), de Encante (quando um jongueiro deseja enfeitiçar o outro pelo ponto) , de Despedida ou Finalização (ao final da roda de jongo).

No caso das crianças o ponto que melhor se aplica a sua participação são os pontos de Visaria. Pesquisei alguns destes cantos e vou desfilar uma pequena amostra aqui. É com imenso prazer que cito o jongo “As Baratas” do grupo cultural jongo da Serrinha -Rio de Janeiro, cantado pelo Mestre Darcy do Jongo com quem tive a honra de conhecer e aprender esta pérola. Aqui vai a primeira parte deste jongo, pois, é a mais cantada pelas crianças.

*
Com a letra curtinha, repetitiva e bem lúdica encanta as crianças:
“Eu nunca vi tanta barata” (2vezes)
“Sinhá dona pega o chinelo e mata”
A partitura mostra uma letra um pouco diferente na segunda frase, mas, foi assim que aprendi com o Mestre Darcy e tenho usado com aprovação das crianças.


A próxima mostra é dos jongueiros do Quilombo São José – Valença, Estado do Rio de Janeiro. Deixa a Moreninha Passear, aqui na partitura também está com a letra um pouco diferente do que eles cantam no quilombo e do que foi gravado, então coloco a letra que eles dão preferência:
“Deixa a moreninha passear” (2 vezes)
“O terreiro é grande, deixa a moreninha passear”


Cito mais dois jongos de visaria que são muito interessantes para as crianças: "Pra que Pente" (Domíno público, gravado pela Luísa Marmelo do Jongo da Serrinha) e "Caxinguelê (Vovó Maria Joana, do jongo da Serrinha, Mãe de Seu Darcy do jongo):

(Pra que pente - Domínio Público)

"Pra que pente ô Teresinha (2 vezes)

Se ocê não tem cabelo, pra que pente ô Teresinha"

*

(Caxinguelê - Vovó Maria Joana)

"Ah! eu fui no mato...

eu fui cortar cipó...

Ah! eu vi um bicho...

Esse bicho era caxinguelê

Eu apanhei o côco - (Coro Responde: Caxinguelê tá me olhando)

Eu levei o côco - (Coro responde: Caxinguelê tá me olhando)

Eu parti o côco - (Coro responde: Caxinguelê tá me olhando)

Eu comi o côco - (Coro responde: Caxinguelê tá me olhando)

Fiz pudim de côco - (Coro responde: Caxinguelê tá me olhando)

Bolo de côco - (Coro responde: Caxinguelê tá me olhando)

Uma outra forma de passar o jongo para as crianças é apresentando-lhes as histórias como esta que foi contada lindamente no livro infantil JONGO da autora SÔNIA ROSA, minha amiga da pós-graduação em cultura africana, editado pela Pallas, na série Lembranças africanas, em 2004, com ilustrações de Rosinha de Campos. Eis a capa do livro:


O livro Jongo repleto de lindos desenhos simbolizando o jongo e a cultura afro-brasileira, mostra a dança, os tambores, e os jongueiros crianças e adultos.


No texto encantador da autora Sônia Rosa, vemos a simplicidade e as rimas relacionadas ao ritmo do jongo, como se as palavras cantassem e dançassem o jongo, cheio de gingados e ludicidade próprios da espontaneidade da criança:

NOSSO POVO DANÇANDO

ONTEM E HOJE

REQUEBRANDO, REQUEBRANDO

AO SOM DO BATUQUE

NO MEIO DA RODA

É JONGO

É CONGO

É ÁFRICA

É BRASIL


Esta é a autora Sônia Rosa, Escritora da literatura infantil com mais 30 livros publicados e diversos prêmios literários recebidos por seu magnífico trabalho! Agradeço imensamente a escritora Sônia Rosa pela liberação das imagens e texto do seu livro desejando muito mais sucesso na sua carreira!



*Fonte:
http://www.jongodaserrinha@.org.br
http://www.cnfcp.gov.br/pdf/Patrimonio_Imaterial/Dossie_Patrimonio_Imaterial/Dossie_Jongo.pdf
http://images.google.com.br (fotos das crianças da Serrinha)

10 comentários:

Unknown disse...

Só assim eu aprenderia sobre esta manifestação cultural, teria ouvido falar por várias ocasiões, mas, não sabia as suas origens.
Blz.

Guará Matos disse...

Que livro bacana, Denise!
É a cultura mostrada, incentivando mais seguidores e apreciadores. Bárbaro!
Crianças tendo a chance de aprender, ler e manter a tradição dos antepassados.
Bjs.

Denise Guerra disse...

Oi Lu, O jongo é maravilhoso de perto então é deslumbrante. Ainda temos muito que aprender com ele. Obrigada pela presença!

Denise Guerra disse...

Oi Guará, A Sônia Rosa tem uma série de 4 livrinhos com as lembranças africanas: Jongo, Capoeira, Feijoada e Tabuleiro da bahiana, são ótimos, textos simples e desenhos encantadores próprios para as crianças. Obrigada pelos comentários e pela fundamental presença! bjs!

Clementino Junior disse...

Eu estive fazendo uma oficina de cinema no Quilombo do Campinho, entre Paraty e Trindade, e vi que lá eles também estimulam a presença das crianças no Jongo, o mais novo tem 4 anos e já dança.
Bem legal a matéria.
Bjs e até sexta...

Denise Guerra disse...

Nossa que legal Clementino! queria muito conhecer este Quilombo. Vamos trocar figurinhas! Obrigada pela presença! bjs!

Unknown disse...

Olá! Sou Graziela de Itajaí Santa Catarina, e entrei por acaso neste site. Gostaria de manter contato com vc Denise, pois atualmente estou em um cargo de Assessora da Temática do Negro em uma secretaria, então preciso articular com pessoas de fora e buscar novas articulações. Meu e-mail é grazielatematica@itajai.sc.gov.br,necessito de novidades em relação a temática do negro. Obrigada e sucesso.

Denise Guerra disse...

Oi Graziela, é um prazer receber sua visita! Fique a vontade e vamos manter contato sim, estou aberta a contribuir e aprender. Saudações à Santa Catarina. Abçs!

Thomaz disse...

Cada dia aprendemos mais no seu blog!

Denise Guerra disse...

Obrigada Dom, seja sempre bem-vindo! Também é por isso que não saio do blog de vcs! Bjs!

♫ESCOLA DE MÚSICA PENTAGRAMA♫ Direção Mapinha * Músico-Professor♫

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*"Capoeira é de Todos e de Deus. Mundo e gentes têm mandinga, Corpo tem Poesia, Capoeira tem Axé"*

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*Frase do Livro "Feijoada no Paraíso" Besouro*

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♫SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS♫

  • *CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 6ª edição. Belo Horizonte: Itatiaia, 1988.
  • *COSTA, Clarice Moura. O Despertar para o outro: Musicoterapia. São Paulo: Summus Editorial, 1989.
  • * FREGTMAN, Carlos Daniel. Corpo, Música e Terapia. São Paulo: Editora Cultrix Ltda,1989.
  • *EVARISTO, Conceição. Ponciá Vicêncio. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2003.
  • * FREYRE, Gilberto. Casa grande e Senzala. 50ª edição. São Paulo: Global Editora, 2005.
  • *HOBSBAWN, Eric J. História Social do Jazz. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
  • *LOPES, Nei. Bantos, Malês e Identidade Negra. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
  • *_________. Dicionário Escolar Afro-Brasileiro. São Paulo: Selo Negro, 2006.
  • *_________. Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana. São Paulo: Selo Negro, 2004.
  • *_________. O Negro no Rio de Janeiro e sua Tradição Musical: Partido Alto, Calango, Chula e outras Cantorias. Rio de Janeiro: Pallas, 1992.
  • PEREIRA, José Maria Nunes. África um Novo Olhar. Rio de Janeiro: CEAP, 2006.
  • *RAMOS, Arthur. O Folclore Negro do Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
  • *ROCHA, Rosa M. de Carvalho. Almanaque Pedagógico Afro-Brasileiro: Uma proposta de intervenção pedagógica na superação do racismo no cotidiano escolar. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2006.
  • *___________. Educação das Relações Étnico-Raciais: Pensando referenciais para a organização da prática pedagógica. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2007.
  • *ROSA, Sônia. CAPOEIRA(série lembranças africanas). Rio de Janeiro: Pallas, 2004.
  • *__________. JONGO(série lembranças africanas). Rio de Janeiro: Pallas, 2004.
  • *___________. MARACATU(série lembranças africanas). Rio de Janeiro: Pallas, 2004.
  • *SANTOS, Inaicyra Falcão. Corpo e Ancestralidade: Uma proposta pluricultural de dança-arte-educação. São Paulo: Terceira Margem, 2006.
  • *SODRÉ, Muniz. Samba o Dono do Corpo. Rio de Janeiro: Mauad, 1998.
  • TINHORÃO, José Ramos. Música Popular Brasileira de Índios, Negros e Mestiços.RJ: Vozes, 1975.
  • _________ Os sons dos negros no Brasil. São Paulo: Art Editora, 1988.