*Mauro César Celestino (Papai Noel), croniqueiro Consa(Hélio Consolaro) e o neto Yuri - Araçatuba* |
Por Hélio Consolaro*
*PAPAI NOEL À BRASILEIRA*
Na minha cidade, caro leitor, Araçatuba, há Papai Noel preto. Eu ia escrever afrodescendente, mas na rua todo mundo que o vê diz:
- Mãe, olha lá, Papai Noel preto!
Ele fica transitando defronte ao lugar onde trabalho. O lojista que o contratou, com certeza, quis fazer marketing. Sabendo que logo à frente trabalha um croniqueiro maluco, fez tudo para chamar minha atenção. E deu certo.
Confesso, caro leitor, que nunca havia pensado em tal possibilidade, apesar de ser sócio honorário da Associação Cultural Afro-Brasileira de Araçatuba. Assim declarou o meu saudoso amigo Alvino Barbosa, não sei se está nos anais da entidade.
Como sempre carrego uma câmera digital em minha bolsa, tive até vontade de fotografá-lo, mas pensei: “Na internet, acharei um monte de imagem de Papai Noel preto, negro ou afrodescente”. Não achei nada.
Peguei minha câmera, voltei para registrar a imagem de São Nicolau africano. Convidei meu neto, que anda meio preconceituoso, e fomos. Assim que chegamos, Papai Noel deu aquele gritinho característico, sem nenhuma africanidade:
- Rorororororô!
Apesar de barbudo, meio dentuço. Pousou logo para a foto, sem trabalho algum. Omar Jundi, o lojista, percebendo minha presença, chegou. Disse que o Papai Noel preto era seu contratado. Confesso que aprovei a iniciativa. Aliás, o Omar foi meu aluno, sempre tivemos boas relações.
Clique daqui. Clique dali. A máquina foi revezando os fotógrafos. Era um Papai Noel alto, grandalhão, bem pançudo, importado da África nos tempos da escravidão. Era um senhor de meia idade fantasiado de Noel. Só porque é negro não pode ser um avô exemplar, um bom velhinho?
- Qual é o seu nome? – perguntei.
- Mauro César Celestino, eu era guarda municipal.
A presença daquele Papai Noel preto no calçadão de Araçatuba produz mais conscientização do que qualquer Dia da Consciência Negra ou texto escrito em jornal contra o racismo. Com certeza, meu neto, por exemplo, refez alguns de seus pensamentos do alto de seus 06 anos.
No primeiro momento, Papai Noel preto causa escândalo, as pessoas até riem. No segundo momento, já pensam: “Por que não?” Com certeza, as crianças afrodescendentes acreditarão mais em Papai Noel. Ele tem a cara delas.
Se a família for negra, por que o Papai Noel precisa ser branco? Alguém sabe a cor da pele de Jesus Cristo?
*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras. Atualmente é secretário da Cultura de Araçatuba.
*O mais incrível deste evento é que (após ler os coments no blog do Consa), em Araçatuba ainda não tem feriado do dia da consciência negra e já foi cogitada a presença de um papai noel negro na cidade, porém, negada pelo motivo de "chocar as tradições"
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