As Enchentes
As chuvaradas de verão, quase todos os anos, causam no nosso Rio de Janeiro, inundações desastrosas.
Além da suspensão total do tráfego, com uma prejudicial interrupção das comunicações entre os vários pontos da cidade, essas inundações causam desastres pessoais lamentáveis, muitas perdas de haveres e destruição de imóveis.
As chuvaradas de verão, quase todos os anos, causam no nosso Rio de Janeiro, inundações desastrosas.
Além da suspensão total do tráfego, com uma prejudicial interrupção das comunicações entre os vários pontos da cidade, essas inundações causam desastres pessoais lamentáveis, muitas perdas de haveres e destruição de imóveis.
De há muito que a nossa engenharia municipal se devia ter compenetrado do dever de evitar tais acidentes urbanos. Uma arte tão ousada e quase tão perfeita, como é a engenharia, não deve julgar irresolvível tão simples problema. O Rio de Janeiro, da Avenida, dos squares, dos freios elétricos, não pode estar à mercê de chuvaradas, mais ou menos violentas, para viver a sua vida integral.
Como está acontecendo atualmente, ele é função da chuva. Uma vergonha! Não sei nada de engenharia, mas, pelo que me dizem os entendidos, o problema não é tão difícil de resolver como parece fazerem constar os engenheiros municipais, procrastinando a solução da questão. O Prefeito Passos, que tanto se interessou pelo embelezamento da cidade, descurou completamente de solucionar esse defeito do nosso Rio. Cidade cercada de montanhas e entre montanhas, que recebe violentamente grandes precipitações atmosféricas, o seu principal defeito a vencer era esse acidente das inundações. Infelizmente, porém, nos preocupamos muito com os aspectos externos, com as fachadas, e não com o que há de essencial nos problemas da nossa vida urbana, econômica, financeira e social.
Correio da Noite, Rio, 19-1-1915. (Toda Crônica, de Lima Barreto, Editora Agir)
7 comentários:
Lima Barreto parece que esta aqui no Jornal de Hoje. Que coisa mais real, Denisinha!
Será que essa cambada que administra essa cidade em todos esses anos, não tem o mínimo de vergonha na cara?
Beijos.
Olá, Denise!
REcentemente passei esta crônica para o meu pai, ele ficou impressionado com a atualidade dos problemas expostosa e a utiliza para elaborar questões de Geografia.
A questão que se coloca, ou melhor: uma entre milhões, é que será que nossa classe política evoluiu? Teremos que conviver mais cem anos com isso?
Há uma outra clássica do Lima Barreto na qual o tema é um enterro em Inhaúma. Assim que localizá-la, a enviarei para você.
Depois passa lá no blog e veja o texto que fiz do Valentinous Velhinho.
bjs!!
Realmente profético e muito atual!
Pois é Guará, quase 100 anos depois eles não aprenderam a ter dignidade nem nos dar o merecido respeito! salve-se quem puder!Bjs!
Oi Ric, à sua questão a resposta é inversa: nossos políticos conseguiram involuir! não sei como isso é possível mas, aqui ocorre! Coitada da nossa cidade, país e da nossa gente! Depois vou ao seu blog ver o texto. Obrigada pela visita! bjs!
Fala Dom, fazer o quê é lamentavelmente verdade! Tomara que mude um dia, ainda espero! Bjs!
Denise, fiquei satisfeita em encontrar o Jornal a qual foi publicada esta Crônica, pois estamos trabalhando este texto em nossa escola. Obrigada pelas informações Beijos
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