*
*Por Mauro viana
No livro, A negação do Brasil - O negro na telenovela brasileira, Joel Zito Araújo aproxima, de modo conseqüente, a televisão da sociedade brasileira. É nesta fronteira que o autor analisa o papel da mídia na história da telenovela brasileira, mostrando como são representados os negros, e as conseqüências destas representações nos processos de construção identitárias no país.
A pesquisa, na origem uma tese de doutorado defendida na ECA-USP, está situada entre 1963 e1997, portanto, grande parte do período envolve um contexto político específico no Brasil, no qual a ditadura tolhia os direitos democráticos dos cidadãos (1964-1985). Os governos militares são o pano de fundo da história não só do negro na TV, mas, também, de todo o povo brasileiro. Este contexto deverá ser levado em consideração na maneira de situar a televisão e a sociedade no Brasil.
É preciso chamar a atenção para a década de 1960, na qual a televisão brasileira passou por grandes e definitivas transformações políticas e tecnológicas. Nela surgiram a Embratel (empresa estatal para gerenciar a telefonia e outros sistemas de comunicação), o uso de canais de comunicação em satélites (INTELSAT) e as máquinas de vídeotape. Estes novos procedimentos e meios, investimentos e tecnologias irão produzir uma nova televisão. Teria sido pertinente que o autor fizesse uma conexão entre esta nova instrumentalização do veículo e suas produções. Zito, no entanto, não examina estes problemas em sua pesquisa, o que implicaria sem dúvida, em realçar algumas questões pertinentes ao estudo proposto pelo autor, em outros termos, como, por exemplo, o da estratégia dos militares para a televisão e as repercussões decorrentes.. Deste modo, é bom lembrar que em 1972 foi introduzida a cor na televisão brasileira, fator fundamental para definição das novas produções, a serem exibidas, como por exemplo, a disseminação das novelas de época.
Entre 1964 e 1965 foi exibida na televisão brasileira um de seus maiores sucessos dramatúrgicos: O Direito de Nascer, curiosamente uma trama de origem cubana, melodramática e moralista. Zito destacou a repercussão da personagem “mamãe Dolores” interpretada pela atriz Isaura Garcia, na qual transparece um ideário de “grande mãe”, aquela que vem para fixar a “ordem” que o discurso autoritário da época propunha.
Zito chamou a atenção para o sucesso da atriz Isaura Garcia, que em um primeiro momento pode ter provocado uma euforia nos atores afro-descendentes, que podem ter pensado que, agora, o negro faria personagens de destaque nas telenovelas brasileiras. Tal como destaca o autor, isto não ocorreu, predominando o padrão sócio-racial euro-americanizado. Numa sociedade marcada pelo ideário de branqueamento pós-escravista, predominou o que Zito chamou de “estética sueca”.
O negro nas tramas está sempre no lugar da tragédia, que é o seu único lugar possível, afirma o autor, para quem tentasse ultrapassar a linha de cor através do casamento inter-racial .
Em 1969, foi levada ao ar A Cabana do Pai Tomáz, onde um ator branco, Sérgio Cardoso fez o personagem título, cedendo a exigência dos patrocinadores. Com esta telenovela foi inaugurada na televisão brasileira o blackface, muito comum no início do cinema americano, onde os atores brancos eram pintados de preto, encarnando uma visão, uma imagem, pretensamente positiva que os brancos poderiam ter dos negros: o negro de alma branca, bondoso, serviçal e fiel. O blackface só lembra todo tempo ao espectador que a alma branca esta sob a pele negra.
A pesquisa, na origem uma tese de doutorado defendida na ECA-USP, está situada entre 1963 e1997, portanto, grande parte do período envolve um contexto político específico no Brasil, no qual a ditadura tolhia os direitos democráticos dos cidadãos (1964-1985). Os governos militares são o pano de fundo da história não só do negro na TV, mas, também, de todo o povo brasileiro. Este contexto deverá ser levado em consideração na maneira de situar a televisão e a sociedade no Brasil.
É preciso chamar a atenção para a década de 1960, na qual a televisão brasileira passou por grandes e definitivas transformações políticas e tecnológicas. Nela surgiram a Embratel (empresa estatal para gerenciar a telefonia e outros sistemas de comunicação), o uso de canais de comunicação em satélites (INTELSAT) e as máquinas de vídeotape. Estes novos procedimentos e meios, investimentos e tecnologias irão produzir uma nova televisão. Teria sido pertinente que o autor fizesse uma conexão entre esta nova instrumentalização do veículo e suas produções. Zito, no entanto, não examina estes problemas em sua pesquisa, o que implicaria sem dúvida, em realçar algumas questões pertinentes ao estudo proposto pelo autor, em outros termos, como, por exemplo, o da estratégia dos militares para a televisão e as repercussões decorrentes.. Deste modo, é bom lembrar que em 1972 foi introduzida a cor na televisão brasileira, fator fundamental para definição das novas produções, a serem exibidas, como por exemplo, a disseminação das novelas de época.
Entre 1964 e 1965 foi exibida na televisão brasileira um de seus maiores sucessos dramatúrgicos: O Direito de Nascer, curiosamente uma trama de origem cubana, melodramática e moralista. Zito destacou a repercussão da personagem “mamãe Dolores” interpretada pela atriz Isaura Garcia, na qual transparece um ideário de “grande mãe”, aquela que vem para fixar a “ordem” que o discurso autoritário da época propunha.
Zito chamou a atenção para o sucesso da atriz Isaura Garcia, que em um primeiro momento pode ter provocado uma euforia nos atores afro-descendentes, que podem ter pensado que, agora, o negro faria personagens de destaque nas telenovelas brasileiras. Tal como destaca o autor, isto não ocorreu, predominando o padrão sócio-racial euro-americanizado. Numa sociedade marcada pelo ideário de branqueamento pós-escravista, predominou o que Zito chamou de “estética sueca”.
O negro nas tramas está sempre no lugar da tragédia, que é o seu único lugar possível, afirma o autor, para quem tentasse ultrapassar a linha de cor através do casamento inter-racial .
Em 1969, foi levada ao ar A Cabana do Pai Tomáz, onde um ator branco, Sérgio Cardoso fez o personagem título, cedendo a exigência dos patrocinadores. Com esta telenovela foi inaugurada na televisão brasileira o blackface, muito comum no início do cinema americano, onde os atores brancos eram pintados de preto, encarnando uma visão, uma imagem, pretensamente positiva que os brancos poderiam ter dos negros: o negro de alma branca, bondoso, serviçal e fiel. O blackface só lembra todo tempo ao espectador que a alma branca esta sob a pele negra.
Apesar do sucesso de O Direito de Nascer é somente nos anos 70 que a teledramaturgia ganha status definitivo de programa de maior audiência e de sucesso de público na TV brasileira. O autor fez um levantamento do período 1970/1979, onde comprovou que nem a Tupy e nem a rede Globo, se propuseram a contar os dramas da luta pela ascensão social e econômica da população negra brasileira, salientando que alguns autores, entre eles Janete Clair e Jorge Andrade, introduziram personagens negros em suas tramas; porém, nenhum deles chegou a ser protagonista ou antagonista, foram personagens de pouca densidade em relação a trama central.
Na década de 1970, estreou O Bem-Amado, de Dias Gomes. Foi aí que a televisão brasileira experimentou pela primeira vez a cor. Apesar da mudança tecnológica, o negro não saiu de seu lugar estereotipado, que reafirmava um imaginário construído no período escravista: o negro como classe subalterna, sempre no lugar dos serviçais. Surgem nestas décadas as novelas de época que tinham como tema a escravidão no Brasil que reproduziam a versão oficial de que a libertação dos escravos foi um feito realizado só por brancos (Escrava Isaura e Sinhá-Moça).
Somente em 1978, segundo Zito, foi que surgiu nova mentalidade nas telenovelas que enfocavam a escravidão: passou-se a exibir um papel mais ativo dos negros na luta por sua própria libertação. Em Sinhá- Fuló, novela de Lafayette Galvão, a luta abolicionista é tratada como eixo central da história, embora lembre Zito, seja reforçado no decorrer da trama o estereótipo do herói branco, responsável pela libertação do negro do cativeiro.
Entre 1980 e 1990, de acordo com Zito, houve algumas mudanças, em destaque, as representadas pela telenovela Corpo a Corpo, onde aparece uma personagem vítima de preconceito racial, Sonia, vivida pela atriz Zezé Motta. Estas duas décadas são consideradas pelo autor como um período de ascensão do negro na telenovela brasileira. No entanto, teria permanecido no mesmo veículo a construção de uma identidade de “branquitude” na sociedade brasileira, onde as imagens dominantes, em especial dos subtextos, reforçam o elogio dos traços ‘brancos’ como o ideal de beleza dos brasileiros.
O livro de Zito mostra que a nossa diversidade racial e cultural transforma-se, nas telenovelas, no paradoxo de um Brasil branco. A pesquisa mostra de forma contundente que o lugar do negro nas tramas exibidas na televisão não mudou e que continua a se reproduzir no século XXI.
Na década de 1970, estreou O Bem-Amado, de Dias Gomes. Foi aí que a televisão brasileira experimentou pela primeira vez a cor. Apesar da mudança tecnológica, o negro não saiu de seu lugar estereotipado, que reafirmava um imaginário construído no período escravista: o negro como classe subalterna, sempre no lugar dos serviçais. Surgem nestas décadas as novelas de época que tinham como tema a escravidão no Brasil que reproduziam a versão oficial de que a libertação dos escravos foi um feito realizado só por brancos (Escrava Isaura e Sinhá-Moça).
Somente em 1978, segundo Zito, foi que surgiu nova mentalidade nas telenovelas que enfocavam a escravidão: passou-se a exibir um papel mais ativo dos negros na luta por sua própria libertação. Em Sinhá- Fuló, novela de Lafayette Galvão, a luta abolicionista é tratada como eixo central da história, embora lembre Zito, seja reforçado no decorrer da trama o estereótipo do herói branco, responsável pela libertação do negro do cativeiro.
Entre 1980 e 1990, de acordo com Zito, houve algumas mudanças, em destaque, as representadas pela telenovela Corpo a Corpo, onde aparece uma personagem vítima de preconceito racial, Sonia, vivida pela atriz Zezé Motta. Estas duas décadas são consideradas pelo autor como um período de ascensão do negro na telenovela brasileira. No entanto, teria permanecido no mesmo veículo a construção de uma identidade de “branquitude” na sociedade brasileira, onde as imagens dominantes, em especial dos subtextos, reforçam o elogio dos traços ‘brancos’ como o ideal de beleza dos brasileiros.
O livro de Zito mostra que a nossa diversidade racial e cultural transforma-se, nas telenovelas, no paradoxo de um Brasil branco. A pesquisa mostra de forma contundente que o lugar do negro nas tramas exibidas na televisão não mudou e que continua a se reproduzir no século XXI.
*Fontes:
*Bibliografia:
Araújo, Joel Zito A. A NEGAÇÃO DO BRASIL: O NEGRO NA TELENOVELA BRASILEIRA. 2ª ed. São Paulo: Ed. SENAC, 2004.
*Resenha do Jornalista Mauro Viana enviada através de Email, a quem agradecemos a disponibilidade*
*Resenha do Jornalista Mauro Viana enviada através de Email, a quem agradecemos a disponibilidade*
3 comentários:
Olá Denise
Apareça em BH, teremos o maior prazer em recebê-la.
Um ótimo fim de semana para você
Beijos
Correto, infelizmente!
Oi Wanderley, assim que der irei a este paraíso urbano! bjs!
Ric, assim é se nos parece! Bjs!
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