
Suas raízes vem das tradições dos povos africanos em especial os da etnia bantu (negros chamados Angolas, Congos, Cabindas, Benguelas e Moçambiques), muito presente no sudeste brasileiro. Ao longo dos tempos o Jongo se afirmou como manifestação de uma identidade cultural, como espaço de resistência para várias comunidades afro-descendentes e como louvação aos ancestrais.

As crianças antigamente eram proibidas de frequêntar as rodas de jongo que eram dançadas só pelos adultos, no entanto, em torno da década de 60, os antigos jongueiros da Serrinha estimulados pelas ideias do Mestre Darcy do Jongo começaram a incentivar as crianças da comunidade a aprenderem o canto e a dança dos seus ancestrais jongueiros. Mestre Darcy do Jongo dizia que se as crianças não perpetuassem esta raiz cultural o jongo morreria com os mais velhos e nós perderíamos este tesouro da cultura afro-brasileira. Assim nasceu o Grupo Cultural Jongo da Serrinha.

A expressão vocal do jongo chama-se “ponto”, são as letras enigmáticas que deverão ser desamarradas como num desafio na hora das rodas de jongo e cada classe de ponto tem seus objetivos. Os pontos podem ser de Abertura ou Licença(para iniciar as rodas), de Louvação (saudando os ancestrais), de Visaria (para alegrar e divertir a comunidade), de Demanda (é como um desafio a outro participante da roda), de Encante (quando um jongueiro deseja enfeitiçar o outro pelo ponto) , de Despedida ou Finalização (ao final da roda de jongo).
No caso das crianças o ponto que melhor se aplica a sua participação são os pontos de Visaria. Pesquisei alguns destes cantos e vou desfilar uma pequena amostra aqui. É com imenso prazer que cito o jongo “As Baratas” do grupo cultural jongo da Serrinha -Rio de Janeiro, cantado pelo Mestre Darcy do Jongo com quem tive a honra de conhecer e aprender esta pérola. Aqui vai a primeira parte deste jongo, pois, é a mais cantada pelas crianças.
*
Com a letra curtinha, repetitiva e bem lúdica encanta as crianças:
“Eu nunca vi tanta barata” (2vezes)
“Sinhá dona pega o chinelo e mata”
A partitura mostra uma letra um pouco diferente na segunda frase, mas, foi assim que aprendi com o Mestre Darcy e tenho usado com aprovação das crianças.

“Deixa a moreninha passear” (2 vezes)
“O terreiro é grande, deixa a moreninha passear”

Cito mais dois jongos de visaria que são muito interessantes para as crianças: "Pra que Pente" (Domíno público, gravado pela Luísa Marmelo do Jongo da Serrinha) e "Caxinguelê (Vovó Maria Joana, do jongo da Serrinha, Mãe de Seu Darcy do jongo):
(Pra que pente - Domínio Público)
"Pra que pente ô Teresinha (2 vezes)
Se ocê não tem cabelo, pra que pente ô Teresinha"
*
(Caxinguelê - Vovó Maria Joana)
"Ah! eu fui no mato...
eu fui cortar cipó...
Ah! eu vi um bicho...
Esse bicho era caxinguelê
Eu apanhei o côco - (Coro Responde: Caxinguelê tá me olhando)
Eu levei o côco - (Coro responde: Caxinguelê tá me olhando)
Eu parti o côco - (Coro responde: Caxinguelê tá me olhando)
Eu comi o côco - (Coro responde: Caxinguelê tá me olhando)
Fiz pudim de côco - (Coro responde: Caxinguelê tá me olhando)
Bolo de côco - (Coro responde: Caxinguelê tá me olhando)
Uma outra forma de passar o jongo para as crianças é apresentando-lhes as histórias como esta que foi contada lindamente no livro infantil JONGO da autora SÔNIA ROSA, minha amiga da pós-graduação em cultura africana, editado pela Pallas, na série Lembranças africanas, em 2004, com ilustrações de Rosinha de Campos. Eis a capa do livro:

No texto encantador da autora Sônia Rosa, vemos a simplicidade e as rimas relacionadas ao ritmo do jongo, como se as palavras cantassem e dançassem o jongo, cheio de gingados e ludicidade próprios da espontaneidade da criança:
NOSSO POVO DANÇANDO
ONTEM E HOJE
REQUEBRANDO, REQUEBRANDO
AO SOM DO BATUQUE
NO MEIO DA RODA
É JONGO
É CONGO
É ÁFRICA
É BRASIL
Esta é a autora Sônia Rosa, Escritora da literatura infantil com mais 30 livros publicados e diversos prêmios literários recebidos por seu magnífico trabalho! Agradeço imensamente a escritora Sônia Rosa pela liberação das imagens e texto do seu livro desejando muito mais sucesso na sua carreira!

*Fonte:
http://www.jongodaserrinha@.org.br
http://www.cnfcp.gov.br/pdf/Patrimonio_Imaterial/Dossie_Patrimonio_Imaterial/Dossie_Jongo.pdf
http://images.google.com.br (fotos das crianças da Serrinha)
10 comentários:
Só assim eu aprenderia sobre esta manifestação cultural, teria ouvido falar por várias ocasiões, mas, não sabia as suas origens.
Blz.
Que livro bacana, Denise!
É a cultura mostrada, incentivando mais seguidores e apreciadores. Bárbaro!
Crianças tendo a chance de aprender, ler e manter a tradição dos antepassados.
Bjs.
Oi Lu, O jongo é maravilhoso de perto então é deslumbrante. Ainda temos muito que aprender com ele. Obrigada pela presença!
Oi Guará, A Sônia Rosa tem uma série de 4 livrinhos com as lembranças africanas: Jongo, Capoeira, Feijoada e Tabuleiro da bahiana, são ótimos, textos simples e desenhos encantadores próprios para as crianças. Obrigada pelos comentários e pela fundamental presença! bjs!
Eu estive fazendo uma oficina de cinema no Quilombo do Campinho, entre Paraty e Trindade, e vi que lá eles também estimulam a presença das crianças no Jongo, o mais novo tem 4 anos e já dança.
Bem legal a matéria.
Bjs e até sexta...
Nossa que legal Clementino! queria muito conhecer este Quilombo. Vamos trocar figurinhas! Obrigada pela presença! bjs!
Olá! Sou Graziela de Itajaí Santa Catarina, e entrei por acaso neste site. Gostaria de manter contato com vc Denise, pois atualmente estou em um cargo de Assessora da Temática do Negro em uma secretaria, então preciso articular com pessoas de fora e buscar novas articulações. Meu e-mail é grazielatematica@itajai.sc.gov.br,necessito de novidades em relação a temática do negro. Obrigada e sucesso.
Oi Graziela, é um prazer receber sua visita! Fique a vontade e vamos manter contato sim, estou aberta a contribuir e aprender. Saudações à Santa Catarina. Abçs!
Cada dia aprendemos mais no seu blog!
Obrigada Dom, seja sempre bem-vindo! Também é por isso que não saio do blog de vcs! Bjs!
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