

Sobre a Fundação Internacional de Capoeira Angola - FICA-BH
Criada em 1995, pelos mestres Jurandir, Cobra Mansa e Valmir, a Fundação Internacional de Capoeira Angola (FICA) realiza um trabalho de preservação, valorização e difusão da capoeira angola pelo mundo, unindo ações sociais e culturais para promover cidadania e desenvolvimento humano. No Brasil, as suas sedes principais concentram-se nas capitais de Belo Horizonte (MG), Salvador (BA) e Rio de Janeiro (RJ). A FICA também está presente em dez cidades dos EUA, no México, Costa Rica, Suécia, Alemanha, Dinamarca, Japão, Rússia e Moçambique. Em Belo Horizonte, a FICA-BH funciona sob a coordenação do Mestre Jurandir e realiza trabalhos com públicos de diversas idades, além de atividades sócio-educativas com crianças e adolescentes.
PRINCIPAIS ATIVIDADES DO EVENTO:
(30/07)No primeiro dia do evento haverá a Abertura Solene com o Embaixador do Senegal no Brasil, Mestre Jurandir e demais Autoridades.
(31/07)O Segundo dia Contará com Oficinas Simultâneas de Capoeira Angola; Palestra: O movimento Negro No Brasil com Marcos Cardoso; Roda de Capoeira; Mostra de Vídeo.
(01/08) No terceiro dia Acontecerão Oficinas Simultâneas de Capoeira Angola; Palestra “Herança na cultura Yorubá” - Michael Olusegun Akinruli; Roda de Capoeira Angola para crianças e adultos; Mostra de Vídeo.
(02/08) O Último dia será de: Oficinas simultâneas de Capoeira Angola; Palestra “Moçambique e Brasil: um olhar sobre o outro? – Integração cultural através da música.” - André Sampaio (FICA-RJ) Convidado: Isaac Mandlate (FICA-Moçambique); Oficina de Dança-Afro /Percussão (Jorge Alabê); Roda de Capoeira Angola e Festa de Encerramento.
LOCAL: A abertura será no Centro Cultural da UFMG (neste 30/07) e o restante do evento será no Espaço Veredas, em Venda Nova (vejam os endereços no blog da FICA, na parte da Programação). A Sede da FICA-BH é na Rua Itatiaia, 86, bairro Bonfim (Em frente à Rádio Itatiaia).
CONTATOS / Contacts: 9864 7318/ 8818 3596(Mestre Jurandir)9931-2486(Treinel Thiago).
Email: ficabh@gmail.com /quilombofica@yahoo.com/
Maiores Informaçõeshttp://www.ficabh.blogspot.com/
Nesta 27ª edição do CAN que ocorrerá em 2010, Angola será a anfitriã. Há 20 países disputando 16 vagas. Os países luso-africanos tiveram pouca participação nestes eventos do futebol africano, certamente pelas graves complicações política ocorridas como as lutas de libertação e as guerra civis que se findaram recentemente como é o caso de Angola. Por tanto, Angola está de Parabéns mostrando sua energia renovadora sediando um evento da dimensão do Campeonato Africano das Nações (CAN)!!!
*Mascote do CAN ANGOLA 2010*
Fontes:
http://www.can-angola2010.com/
http://jornaldeangola.sapo.ao/
Todos os povos têm suas brincadeiras pertinentes às necessidades expressivas de cada cultura. Como sonhar acordado, brincar é expor-se de dentro para fora. Segundo a Musicoterapia o som tem propriedades físicas que incidem sobre o corpo humano de forma objetiva e subjetiva, movendo o sujeito afetivamente, interferindo no seu desenvolvimento bio-psico-social. Vamos fazer uma breve leitura de alguns brinquedos do folclore brasileiro que perpassam as instâncias da arte de brincar , cantar, dançar e imaginar.
Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular. Geralmente são cantigas anônimas acompanhadas de movimentos expressivos, saltitantes e ou dramatizados. Nestes brinquedos em geral, as crianças imitam o mundo do adulto vivenciando emoções, sensações e conflitos como veículos de elaboração e amadurecimento.
Dos três povos que inicialmente formaram a cultura brasileira, o português trouxe maior influência para os brinquedos cantados. A oralidade que caracteriza o processo de transmissão das brincadeiras e brinquedos cantados de certa forma transformou as cantigas e os modos de brincar, ocorrendo a mistura dos costumes africanos com os lusitanos, além das variações regionais de uma mesma brincadeira (CASCUDO,1988). No entanto, os ritmos e danças africanas deram um tempero mais brejeiro ao legado lúdico brasileiro.
Até o século XIX as brincadeiras das crianças eram muito limitadas pela rigidez patriarcal imposta ao comportamento infantil, e porque os infantes eram vistos como mini-adultos. Freyre (2005) conta que muitas crianças brancas eram criadas pelas escravas africanas juntamente com seus filhos negros, os quais eram mais habilidosos com a natureza, mais dados a traquinagens e a criatividade devido a sua condição servil.
Um outro aspecto característico das brincadeiras infantis no tempo colonial brasileiro, é que as crianças ao acompanharem seus pais no labor cotidiano da casa grande ou do eito, repetiam em suas brincadeiras estes afazeres e também o contexto de violência vivido na época. (Freyre, 2005)
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto, a poesia, a dança, a brincadeira, o compartilhar, devido a simplicidade musical, riqueza simbólica e ludicidade peculiar; as vivências através destes elementos lúdicos, conquistam a criança como aquilo que é próprio do seu tempo.
Os termos brincar e jogar são referenciados como sinônimos por Cascudo (1988). Nos principais idiomas internacionais (Inglês, Francês, Alemão e espanhol), brincar e jogar também serve para definir atividades artísticas como a interpretação teatral ou musical (Santa Roza,1993). Na língua portuguesa o termo "brincar" vem do latim vinculum e significa laço, união. No entanto é o termo lúdico da nossa língua, também proveniente do latim "ludus", que melhor abrange e define as atividades artísticas, culturais, brincadeiras e jogos. (ibid.)
Passando para o lado prático, vamos brincar com quatro exemplos curiosos do cancioneiro infantil brasileiro. O primeiro se chama “Uma, duas angolinhas”, é um brinquedo cantado tipo parlenda em roda, com as crianças sentadas, e um solista ao meio dando beliscos nas mãos de cada colega enquanto cantam as quadrinhas:
Uma, duas angolinhas, Finca o pé na pampulhinha
O rapaz que faz o jogo, faz o jogo de capão
Capão sobre capão, Fica aí mane joão
Aquele que tirar a mão por último, Vai leva um be-lis-cão.
Além do beliscão refletindo a idéia da galinha d’angola beliscando as mãos de cada participante, a protagonista da música, uma ave, é um dos mais importantes mitos iorubanos sobre a origem da criação do mundo; conta Lopes (2004) que “a galinha d’angola ciscou sobre as águas iniciais uma porção de terra e a espalhou por todas as direções fazendo nascer terra firme”. Por este mito e outras razões ela também é considerada a primeira iaô e é o animal mais importante dentro da tradição dos orixás.
No divertido brinquedo cantado “O Saci Pererê”, as crianças em pé na roda, devem cantar e imitar as habilidades do saci mostradas na música:
O Saci Pererê, pula numa perna só,
Ele toca o tambor, toca como ele só.
O Saci Pererê, pula numa perna só,
Ele toca o pandeiro, toca como ele só. (...)
Esta brincadeira é aberta a improvisações na letra, onde se podem colocar quantos instrumentos quiser para o Saci tocar e consequentemente para as crianças imitarem. O Saci Pererê, elemento tradicional no nosso folclore, aproxima-se de várias figuras da mítica iorubana como: Exu (em suas traquinagens); Arôni (duende iorubano de uma perna só, ligado a Ossãim, e que vive nas matas); e ainda é referenciado a uma palavra do campo semântico da magia e do sortilégio em ioruba “Ásasí”, conforme assinalado em Lopes (2004 e 2006).
Outro brinquedo cantado de significado muito expressivo é o Tangolomango; as crianças brincam em roda também para contagem de números decrescentes, no qual um participante deve deixar a roda ao final de cada verso. Eis algumas quadras desta cantiga:
Eram dez irmãs numa casa, Uma delas foi tocar o fole,
Deu um Tangolomango nela, E das dez ficaram nove.
Eram nove irmãs numa casa, Uma delas foi fazer biscoito,
Deu um Tangolomango nela, E das nove ficaram oito.
Eram oito irmãs numa casa, Uma delas foi amolar canivete,
Deu um Tangolomango nela, E das oito ficaram sete. (...)
A simbologia contida nesta brincadeira onde a cada momento uma criança deixa de fazer parte do grupo acometida pelo Tangolomango, vai de encontro as diversas referências a esta palavra como “Uma doença atribuída a feitiçaria, bruxedo, azar, infelicidade, morte” (LOPES, 2004). Nota-se que este assunto é bastante difícil para o entendimento das crianças e carregado dediscriminação e preconceito racial, social entre outros.
Como é de praxe, vamos terminar em samba com uma brincadeira muito conhecida no sudeste brasileiro, onde as crianças finalizam a música sambando conjuntamente na roda - como fazem os adultos.
Samba Lelê ta doente, Tá com a cabeça quebrada,
Samba Lelê precisava, É de umas boas lambadas,
Samba, samba, samba ô Lelê, Samba, samba, samba ô Lalá. (bis)
Nosso velho conhecido samba não poderia ficar de fora das brincadeiras das crianças. Samba é um nome genérico para várias danças brasileiras e para a própria música; contudo, foi registrado em Angola o verbo samba querendo dizer “cabriolar, brincar, divertir-se”; é remetido também a palavra semba de origem Bantu significando o mesmo que umbigada. A propósito, “Lê” é o nome do menor dos três atabaques da orquestra ritual dos candomblés jeje-nagô (LOPES, 2004). As crianças se divertem aprendendo e ensinando a dança do samba umas às outras. Este parece ser o maior objetivo dos brinquedos cantados: transmitir a cultura pela oralidade e pela corporeidade, favorecendo a vivência, a elaboração e o desenvolvimento da criança.
Buscamos neste trabalho retomar um pouco o tema da africanidade permeada em nossa cultura desde a infância. Há centenas de outros exemplos, mas, precisaríamos de um espaço específico para mostrá-los.
Acredito que dar à criança a oportunidade de brincar, cantar e dançar é investir num caminho de busca da essência do ato, da mente, da voz e do pertencimento inventando o prazer de ser feliz! Para ambientar o final deste artigo, deixo alguns versos de uma música popular brasileira do compositor Gonzaguinha que é um exemplo de ciranda:
REDESCOBRIR
Como se fora brincadeira de roda (memória)
Jogo do trabalho na dança das mãos (macias)
O suor dos corpos na canção da vida (história)
O suor da vida no calor de irmãos (magia) (...).
Artigo Publicado nos seguintes veículos:
http://www.africaeafricanidades.com/
http://passeandopelocotidiano.blogspot.com
http://www.parthenon.esp.br/revistacienciaonline/
4º Congresso Carioca de Educação Física - FIEP (Federation Internationale D'Education Physique)
12º Congresso Internaiconal Fitness et Wellness - Santa Mônica - Pôster apresentado oralmente.
O Workshop de Timbila (instrumento criado pelo povo Chope de Moçambique, considerado pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade) aconteceu entre os dias 09 e 12/07/2009 no espaço do Maracatu Brasil, no Rio de Janeiro, com diversos instrumentos ao nosso dispor além das três Timbilas de tamanhos pequeno, médio e grande.
O músico e professor de percussão do TEAR, André Sampaio, foi o mediador do curso inclusive porque ele teve contatos anteriores com o músico Matchume Zango em Moçambique, e consequentemente já estava familiarizado com o instrumento Timbila.
Matchume Zango, músico e professor de Timbila, nos recebeu com simpatia e dedicou-se a transpor as barreiras dos costumes e concepções musicais que são diferentes em nossos países. Desta forma, começou o Workshop nos contando sobre a história da Timbila que se confunde com a história do seu povo, os Chopes. Segundo o moçambicano eles não sabem ao certo quando a Timbila foi criada, mas, sabem de sua importância social, política, educativa e cultural.
O visitante disse-nos que este instrumento é tocado no dia-a-dia das famílias e que desde pequeno as crianças têm contato com a Timbila. A Timbila serviu de alento ao povo Chope para aplacar os horrores das guerras sofridas; amenizou o pânico vivido por seus conterrâneos nas perigosas minas de extração de pedras preciosas na África do Sul; harmonizou os diversos eventos sociais das famílias Chopes, como as confraternizações entre eles e com outros povos vizinhos. Arrisco-me a afirmar que este instrumento teve e continua tendo um valor musicoterápico e místico para o povo Chope.
As diversas famílias produzem artesanalmente a Timbila, e o mais incrível é que a afinação desta é feita através das vozes dos artesãos construtores; por isso, cada família tem Timbilas com afinações próprias e no caso de se formar uma banda ou orquestra de Timbilas é importante que venham da mesma família produtora para que a afinação fique mais adequada.
A Timbila é composta em sua parte superior por teclas de madeira de uma árvore especial chamada Moendi; estas teclas são afinadas na escala tonal, mas, com diferenças de comas (subdivisões de uma nota musical) formando um instrumento não temperado (sem afinação fixa); as teclas são percutidas com duas baquetas lembrando o dinâmica do xilofone. Na parte inferior a Timbila é composta por Massalas (um tipo de cabaças que dá em árvores como o nosso coité) e tem tantas Massalas quanto seja o número de teclas do instrumento; os tamanhos das Massalas variam de acordo com o tamanho das teclas; elas fazem então a função de caixa de ressonância, com vibração das membranas que possuem nos orifícios de saída do som.
O som das Timbilas é forte e comporta o acompanhamento de vários outros instrumentos de percussão ao mesmo tempo, sendo ela em geral um instrumento de solo sonoro-ritmico. O workshop seguiu-se com o mestre passando algumas concepções rítmicas para que nós acompanhássemos as Timbilas. Nossos ouvidos acostumados aos sambas, maracatus, forrós etc, se confundiram um pouco com as constantes fusas e semifusas (células rítmicas que expressam andamento rápido) ditadas pelo músico Matchume; No entanto, nos encontrávamos sempre ao final de cada percurso musical.
O nosso workshop foi prestigiado com as presenças de músicos experientes e grandiosos como é o caso do srº Humberto do Jongo da Serrinha. Entre os demais alunos estavam outros músicos, professores e alunos de percussão, além de duas musicoterapeutas (eu e a colega Sinai).
Matchume Zango nos contou que cresceu ouvindo Jazz, Hip-Hop, Semba (fazendo uma ponte com o nosso samba), mas, a influência jazzística foi mais forte. No seu trabalho comumente ele une as concepções contemporânea à música tradicional do seu povo mediada pelo Jazz. Dito isso, passamos no último dia do curso à prática mais elementar preconizada pelo Jazz: o Improviso. O Timbileiro nos deu um tema e a cada volta deste tema um de nós improvisava junto com a Timbila que fazia a base. Além desta prática rítmico sonora ter sido muito prazerosa nos inovou musicalmente, pois, a maioria de nós não tinha se quer conhecimento da existência do instrumento Timbila.
Agradecemos ao músico André Sampaio e ao Maracatu Brasil por terem tornado possível este workshop. Ficamos infinitamente gratos ao músico moçambicano Matchume Zango por sua disponibilidade, cumplicidade musical e por seu carisma!
Quero finalizar ressaltando a energia do povo Chope e seu instrumento Timbila através de uma colocação feita pelo ilustre filho da terra que Moçambique nos enviou: “Antes de falar e andar o povo Chope canta, dança e toca Timbila” (Matchume Zango). Muito obrigada Matchume, Warethwa! (Vá em frente).
*Cia de Teatro Solaris - Cabo Verde*