♫AMIGOS DO AFRO CORPOREIDADE♫

segunda-feira, 13 de julho de 2009

*Fechando o FESTLIP a Peça “Nó Mama Frutos da Mesma Árvore” (Grupo de Teatro do Oprimido – Guiné Bissau)*

*Por Denise Guerra*
*Minha Foto com Ricardo Riso agachado à esquerda,
César Griot em pé, o último à direita, eu de blusa vermelha
e a profª Drª Conceição Evaristo à esquerda do meu lado,
com o GTO - Bissau no final da peça que foi muito Show!!!*


O grupo GTO – Bissau iniciou sua participação fiel às propostas do Teatro do Oprimido fundada pelo brasileiro Augusto Boal no Brasil e na Guiné Bissau. No Teatro do Oprimido a dinâmica usual é sempre partir de um problema, o qual depende da intervenção da platéia para sua resolução do ponto de vista do oprimido.

Um dos atores veio cumprimentar o público e explicar suas propostas; em seguida os demais atores entraram cantando e dançando duas músicas ao som de um tambor, sendo a primeira com o tema sobre a “Liberdade” e a segunda com o tema do “Amor”. A história da Guiné Bissau foi muito marcada pela opressão colonial, e constantes guerras pela liberdade; ainda hoje o país vive momentos delicados e uma instabilidade política muito séria, haja vista os episódios da morte do último presidente Nino Vieira, em março deste ano, assim como a posterior morte do candidato à presidência Baciro Dabó. As músicas sobre a Liberdade e o Amor soam como Odes a estes bens tão preciosos e pouco disponíveis na vida daquele povo.

A cena deflagradora das questões a serem solucionadas pela intervenção do fórum público mostrou uma cerimônia onde o mais velho, personagem avô, reuniu seus herdeiros para participarem de um ritual de união da família e preservação das tradições. Como é o costume, o mais velho pede para que a família, ali representada por duas filhas e dois netos, cante e dance para avisar aos deuses que eles estão reunidos, para pedir que abençoem a cerimônia e a união da família. Observa-se que o canto e a dança são as vias mais importantes de contato com os deuses africanos, e no caso da Guiné Bissau, há uma forte herança cultural sendo a dança acompanhada da música característica, a maior expressão artística desta cultura.

As danças da peça foram acompanhadas por um tambor e canto nativo em língua crioula ou mandé(?) idioma comum entre os guineenses. Após a louvação, iniciou-se o ritual no qual, seguindo-se a tradição, a irmã mais velha deveria lavar suas mãos na água sagrada preparada para a cerimônia. Vê-se então a quebra dos costumes pela irmã mais nova, que passou a frente da irmã mais velha e mergulhou primeiro sua mão na água sagrada. Assim, criou-se um mal estar entre as famílias, e o problema estava colocado para possíveis resoluções com a intervenção do público.

A platéia compareceu participativa e solidária ao oprimido da história, no entanto, percebeu-se nítida dificuldade dos brasileiros quanto ao entendimento sobre a visão de mundo dos africanos. Ainda assim, a interatividade foi muito produtiva, e certamente, ambos os países aprenderam um pouco mais sobre a cultura do outro.

A produção da peça “Nó Mama Frutos da Mesma Árvore” contou com um cenário simples do ponto de vista material, porém, riquíssimo em criatividade, simbologia e energia: o Embondeiro (árvore mística), a União da Família (através dos tecidos), a Água sagrada (que tudo lava), a Dança (a arte do movimento corporal rítmico), o Tambor (meio de comunicação com os deuses).
A sonorização baseada nos cânticos originais deste povo ficou marcado pela voz estridente de uma personagem, bem como, pela polifonia do coro que cantou com afinação não temperada, com ritmos marcados e sincopados. O nome das duas famílias envolvidas na trama “Prela” e “Silá” coincidem com os nomes das notas musicais Ré, Lá (notas separadas por um intervalo grande de tons, no caso uma 5ª justa) e Si, Lá (notas próximas na sequência da escala tonal ou uma 2ª M); será que estes nomes e intervalos de notas foi pensado para expressar a possibilidade de afastamento e união das famílias por causa do problema a ser resolvido?

Manter a Tradição em um mundo globalizado e repleto de guerras que extingui pessoas e culturas talvez só seja possível com a perseverança da União. Estes dois temas abordados na peça, Tradição e União, expressam o desejo de manutenção da circularidade africana. Que nossos visitantes levem a paz, o amor, a esperança, a união, a música e a dança do bem no regresso aos seus países. Que continuem contando histórias ao pé do Baobá e à volta da fogueira, mantendo e preservando a essência do povo e de sua cultura.

“Quem conhece o ontem e o hoje Conhecerá o amanhã, porque
O fio do tecelão é o futuro, O pano tecido é o presente,
O pano tecido e dobrado é o passado”.

(Provérbio fulani)

Ficha técnica
Criação/Concepção coletiva: Grupo de Teatro do Oprimido – GTO / Guiné Bissau – BissauDireção Artística: Barbara Santos Elenco: Claudina Joaquim da Silva Gomes, Edilta da Silva, Elsa Maria Ramos Gomes, José Carlos Lopes Correia, Silvano Bernardo Antônio dos Santos; Suleimane GadjicóDuração: 60 min. Concepção Plástica: Cachalote Mattos

Referências:
Lopes, Nei. Bantos, Malês e Identidade Negra. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
http://historiadaguine.blogspot.com/ (acesso em 13/07/09)

Nenhum comentário:

♫ESCOLA DE MÚSICA PENTAGRAMA♫ Direção Mapinha * Músico-Professor♫

♫ESCOLA DE MÚSICA PENTAGRAMA♫ Direção Mapinha * Músico-Professor♫
♫VIOLÃO * CAVAQUINHO * GUITARRA * BAIXO * FLAUTA * SAXOFONE * TROMPETE * TROMBONE * CLARINETE * GAITA * PIANO * TECLADO * CANTO * BATERIA * PERCUSSÃO GERAL♫ RUA IGARATÁ, Nº566 - MARECHAL HERMES - Rio de Janeiro* TEL(S):3456-1510/8133-3559* www.empentagrama.kit.net

*Registrado no Creative Commons*

Licença Creative Commons
Afro-Corporeidade e Africanidades de Denise Guerra dos Santos é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
Based on a work at afrocorporeidade.blogspot.com.
Permissions beyond the scope of this license may be available at http://afrocorporeidade.blogspot.com.

*FRUTOS DA DIÁSPORA AFRICANA*






*ACESSE http://www.africaeafricanidades.com.br*

*ACESSE  http://www.africaeafricanidades.com.br*


*"Capoeira é de Todos e de Deus. Mundo e gentes têm mandinga, Corpo tem Poesia, Capoeira tem Axé"*

*"Capoeira é de Todos e de Deus. Mundo e gentes têm mandinga, Corpo tem Poesia, Capoeira tem Axé"*
*Frase do Livro "Feijoada no Paraíso" Besouro*

Related Posts with Thumbnails

♫SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS♫

  • *CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 6ª edição. Belo Horizonte: Itatiaia, 1988.
  • *COSTA, Clarice Moura. O Despertar para o outro: Musicoterapia. São Paulo: Summus Editorial, 1989.
  • * FREGTMAN, Carlos Daniel. Corpo, Música e Terapia. São Paulo: Editora Cultrix Ltda,1989.
  • *EVARISTO, Conceição. Ponciá Vicêncio. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2003.
  • * FREYRE, Gilberto. Casa grande e Senzala. 50ª edição. São Paulo: Global Editora, 2005.
  • *HOBSBAWN, Eric J. História Social do Jazz. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
  • *LOPES, Nei. Bantos, Malês e Identidade Negra. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
  • *_________. Dicionário Escolar Afro-Brasileiro. São Paulo: Selo Negro, 2006.
  • *_________. Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana. São Paulo: Selo Negro, 2004.
  • *_________. O Negro no Rio de Janeiro e sua Tradição Musical: Partido Alto, Calango, Chula e outras Cantorias. Rio de Janeiro: Pallas, 1992.
  • PEREIRA, José Maria Nunes. África um Novo Olhar. Rio de Janeiro: CEAP, 2006.
  • *RAMOS, Arthur. O Folclore Negro do Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
  • *ROCHA, Rosa M. de Carvalho. Almanaque Pedagógico Afro-Brasileiro: Uma proposta de intervenção pedagógica na superação do racismo no cotidiano escolar. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2006.
  • *___________. Educação das Relações Étnico-Raciais: Pensando referenciais para a organização da prática pedagógica. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2007.
  • *ROSA, Sônia. CAPOEIRA(série lembranças africanas). Rio de Janeiro: Pallas, 2004.
  • *__________. JONGO(série lembranças africanas). Rio de Janeiro: Pallas, 2004.
  • *___________. MARACATU(série lembranças africanas). Rio de Janeiro: Pallas, 2004.
  • *SANTOS, Inaicyra Falcão. Corpo e Ancestralidade: Uma proposta pluricultural de dança-arte-educação. São Paulo: Terceira Margem, 2006.
  • *SODRÉ, Muniz. Samba o Dono do Corpo. Rio de Janeiro: Mauad, 1998.
  • TINHORÃO, José Ramos. Música Popular Brasileira de Índios, Negros e Mestiços.RJ: Vozes, 1975.
  • _________ Os sons dos negros no Brasil. São Paulo: Art Editora, 1988.